domingo, 11 de novembro de 2018


NUNCA NAVEGUEI



Navegando doce mar de mosto,
Capitão no seu posto à proa dum navio
Tudo a seu posto, tudo a seu gosto
De comando e leme á luz da tocha
a confraria vai sulcando mares de rocha
As ondas essas, de pedra e vontade
fundeados ao largo pela eternidade,
Sem pressas de chegar ao seu destino.
Atracando felicidades no cais humano,
É num antecipado egocêntrico desengano
Que ruma em direção ao cais divino.

Lá não terá socalcos, escarpas
Nem vinhas ou vinhedos ou,
Aquela menina dos olhos deslumbrados;
Cabelos loiros desengrenados
Serão pontos de luz
entorpecida;
Rasos, baixos todos os montes
Deixam prolongar torpes horizontes
Até extinguirem cores da vida.

Por isso, é lento o que se aproxima
Da grande bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais, que gasta no caminho
É um sopro a mais de vinho, mais de cheiro
Á terra, e ao andar rasteirinho !

Não são pepitas de ouro que procuro.
Ouro dentro de mim, terra singela!
procuro apenas aquela
mundana riqueza
Destes homens que absolvem a solidão:
O tesouro ancestral sagrado
sem nenhuma certeza,
guardado
Por mil incertezas da escuridão.
cultivo,
adubo,
recolho, e bebo…
Mas só quero a fortuna
De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e a descoberto.

Nada
posso fazer amor! eu sou desta confraria
Impermeável como aves friorentas;
E nos galhos de anos e honraria
Já nem folhas me ofuscam de cinzentas;

E vou com os passarinhos. Até quando?
brindo, à vida breve e não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave tresmalhada serei em mãos sedentas.eu sei

Pensai-me eternamente que o eterno desespera
Quem na amada Ventura. Vai, além, mais alto,
Em ilesa embriaguez, aí, desespera:
espera nunca naveguei, espera não faz mal
espera agora acho que sei, este mar
não nunca naveguei….



Hernâni Guedes
Escrito 22 outubro “ tocha não tenham medo”

Declamado em 10 novembro por Paulo custódio, via vídeo

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